segunda-feira, 19 de julho de 2010

Mr. Right

Ele me faz rir, sem nunca usar o riso contra mim. Falta habilidade de saber ouvir, é verdade, mas fico lisonjeada quando presta atenção às minhas críticas e se esforça num sacrifício comovente para mudar um hábito.

Compreende a diferença entre estar presente e fazer companhia. Não é prolixo e sempre tenta impressionar. Não entende de vinho, literatura ou cinema europeu; mas é autêntico e admite que não entende de vinho, literatura nem de cinema europeu (e eventualmente confessa que gosta mesmo é de comédia romântica).

Não exige a todo instante meu lado risonho porque sabe, como sabe de tantas outras coisas não ditas em sentenças ou discursos, que os dias negros fazem parte de mim.

Nota as sutis alterações de humor pelo tom da minha voz e, antes de prejulgar as razões, se predispõe a fazer cafuné ou, sensato, cala-se ao meu lado observando as pessoas ou a paisagem em volta. E não exige explicações porque possui uma calma sabedoria que me impele em sua direção: dividir minhas angústias e anseios com ele é tão acolhedor quanto deitar na grama sob o sol de outono.

Ele me dá bronca quando abuso da minha independência, me lambuzo com temaki ou como chocolate demais e depois reclamo do peso. Compreende que preciso da sensação indescritivelmente libertadora de sumir por algumas horas e, mesmo sem concordar com ela, não me interroga como um delegado quando volto de um encontro com minhas amigas.

Canta. Se acha mais afinado do que realmente é, mas adoro quando sussurra (ou coloca no som do carro) canções que, num dia qualquer, mencionei gostar. Sabe dançar. Mas quando a música exige passos mais elaborados, mantém a dignidade e fica sentadinho me observando e lançando olhares gulosos.

Também bebe. Fraco diante do álcool, é daqueles que ficam charmosos de matar com um copo de caipirinha nas mãos. É deliciosamente sacana três doses acima do normal. Enterra os bons modos e fecha abruptamente a porta do quarto, sem tempo para que eu pronuncie alguma babaquice do tipo “você me faz tão feliz”. Adormece aconchegado a mim, mas não suporta ficar agarrado durante toda a noite.

E também curte comer bem. Diverte-se tanto num restaurante quanto numa balada. Deixa eu escolher onde ir, mesmo dando sugestões tendenciosas.

Tem sempre uma palavra carinhosa (e não melada) para dizer, até nos minutos desagendados durante o dia cheio (nem que seja por e-mail), e não usa trabalho nem cansaço como pretexto para suas eventuais faltas; as assume e, até, se desculpa. Não se esquiva de discutir os problemas que não se solucionam com notas de 100. Não considera fraqueza dizer que me ama. Pede ajuda quando sente que o peso colocado sobre seus ombros extrapolou sua força. E chora. Não faz promessas porque sabe que nem sempre é possível cumpri-las.

Vive regido por sua consciência sensata ao mesmo tempo é impulsivo, assassina a etiqueta e comete atos passionais. Então faz besteiras, erra, engana-se. E nem por isso deixa de ser maravilhoso - apenas segue sendo magnífica e extraordinariamente humano.

Ele é imperfeito, numa imperfeição que combina exatamente com a minha.

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