quarta-feira, 31 de março de 2010

Happy birthday, dear Lelis.

Eeeeee! É o meu aniversário. E apesar de não poder os amigos receber, vamos festejar. Eu e todos os eus aniversariantes que existem dentro de mim: a velha mulher que já passou por muitas, boas e cresceu na dor. A menina imatura que descobriu semana passada os efeitos de se misturar vodka com cerveja. A moleca que ainda compra na Zara Kids, o mulherão que ouve "gostosa" às 10 da manhã, em plena Berrini.

Estou feliz, muito feliz. Normalmente não gosto, normalmente não é bom. Mas hoje, esses eus darão uma trégua de se estapearem, afinal, temos uma coisa comum. Além de sermos todos aniversariantes, somos todos arianos, autênticos, egoístas, impulsivos, doidos e chatos.

Hoje é diferente, hoje tenho esperança. Hoje olho pra frente. Hoje sopro velinhas e faço desejos. Hoje estou muito feliz e me deixo pensar que hoje é o meu dia. Pouco depois da meia noite, lembrei que não tinha me dado os parabéns. E disse: "Lé, minha querida - como raramente ouso me chamar, já que não tenho e nem me dou esse tipo de carinho - Feliz aniversário!" E eu sorriu. Abracei-me, me beijei.

Hoje é um aniversário feliz. É o primeiro sem aquele e ao lado daquele outro. Mas isso não importa muito. Estamos, eu e meus eus felizes, porque finalmente me sinto feliz por mim. Eu sou minha amiga, minha companheira, minha admiradora e vamos comemorar isso hoje também.

Desejo-me felicidade, muita saúde (de mente e de corpo), muita sorte e muita força. Muito amor e pouco medo. Que eu cresça, me encontre, me equilibre. Que eu aprenda a lidar com a dor sem fazer dela algo maior do que realmente é, e que no final ganhe sempre alguma coisa dela.

Que eu me torne uma pessoa melhor e possa tornar os outros melhores também. Que eu colecione muitos carimbos no passaporte. Que eu tenha inúmeros finais de semana iguais àquele que passei no Rio. Que eu continue cercada de pessoa que sabem o que é respeito e o que é caráter. Que eu possa ser leal, mesmo não sendo fiel.

Que eu esteja imensamente maior a cada ano, como estou agora, em relação ao aniversário passado.

E que eu entenda que alma e amor quanto mais a gente dá, mais a gente tem. Que eu sofra decepções só para ter a sensação inenarrável de ser acolhida por tanta gente querida.

Que eu consiga ouvir mais e falar menos. E quando falar, que o tom da minha voz seja tranqüilo e as palavras pensadas.

Que eu tenha sempre inspiração pra continuar escrevendo nas horas vagas e nas pagas. Que eu saiba cultivar, cuidar e regar o amor dos meus amigos, da minha família e do meu amor.

Que eu possa sempre contar comigo e que enfim eu seja eu e tantos eus!

Sim, hoje é um feliz aniversário!

*Texto em homenagem à minha querida Fê Thomé (uma paródia de suas sempre sábias palavras)

quinta-feira, 18 de março de 2010

Procura-se sabe lá D´us o que.

Pra onde foi a minha inspiração? Cadê? Uma preguiça de acordar. Uma preguiça de tomar banho, escolher uma roupa, escolher entre pão francês ou frutas. Tudo parece ter o mesmo gosto falso de paliativos. De forte somente a preguiça de contar de tantas preguiças.

Da cartilha do sucesso, que manda estudar, amar o que se faz e se relacionar bem, apenas amei. Nem isso faço mais. Sou uma péssima aluna. Tenho a impressão de ter chegado ao topo de uma montanha, mas ela era muito alta e afastada e ninguém me viu.

Em vez de sucesso sinto segundos desejáveis de suicídio, vontade de pular lá de cima da montanha com o dedo desejando um último foda-se ao mundo. Nem que seja para fazer barulho e sujar o chão dos equilibrados. Nem que seja para fazer falta. Cadê o gosto intenso de fugir do mundo com um segredo fatal? Não existem segredos fatais: todo mundo se aproxima de todo mundo por caça e infelicidade.

Somos animais tristes e não seres loucos e apaixonados. Eu me enganei tanto com o ser humano que ando com preguiça de me entregar. Ninguém tem coragem pra mudar nada, ou apenas é inteligente para saber que a rotina chega de um jeito ou de outro, não adianta se mover.

Pra quem faço falta e aonde me encaixo? Aonde sou útil e pra quem sou essencial? Pra onde vou e aonde descanso? Pra quem e por quem vivo? Freud mexeu três vezes no túmulo com a vontade de me dizer que devo viver por mim.

Dane-se a psicanálise: é muito mais gostoso ter outros encantamentos, além do umbigo. Não que esses encantamentos não sejam para agradar meu umbigo. Ok, fiz as pazes com Freud, que deve achar o egoísta um pouco menos doente que o depressivo.

Ou não, não fiz as pazes com Freud, que acha tudo farinha do mesmo saco e nem está prestando atenção em mim. Ele é só mais um a não enxergar o alto da montanha, mesmo porque ele está embaixo da terra. Incluo Freud no meu "foda-se o mundo".

Que papo é esse? A esperança desesperada por amor e reconhecimento profissional deixou escapar a cansada esperança que se assustou de desespero. Perdi meu deslumbramento, a válvula propulsora da vida que tive até aqui.

Cansei de me encantar pelo difícil. Que tal um homem e um salário de verdade pra viver uma vida de verdade? Chega da miséria do sonho. Chega de idealizar uma vida com um fone no ouvido.

Eu quero tocar, eu quero cair das nuvenzinhas acima da minha cabeça. Junto com meu deslumbramento, perdi boa parte de quem eu era. Boa parte tão grande que não tenho para onde ir. Sou uma sem-vida. Junto com o meu deslumbramento, perdi o rumo: quem não sonha não sabe aonde quer chegar.

O sonho guia, leva longe. Mas de frustrado ele te faz retroceder alguns anos, te transforma em criança assustada. Sei disso quando durmo em posição fetal querendo ser devolvida ao quente da minha proteção primária.

Freud volta a ser meu amigo. Minha esperança é que o sonho esteja apenas cansado e depois de uma boa noite retorne colorido, musicado e perfumado. Eu disse a minha esperança? Então eu ainda tenho alguma? Nem tudo está perdido.

Estou deslumbrada com a vida, que te devolve à infância quando o mundo adulto atropela e fere. Lá na infância você se enche de sonhos e volta preparada para o mundo adulto, que se ocupa a frustrá-los todos novamente.

Eu disse que estou deslumbrada? Não, eu não disse, eu escrevi. Que papo é esse? Entre idas e vindas me resumo feliz. Entre altos e baixos me resumo equilibrada. Sendo assim, tá na cara e não tem pane: estou deslumbrada com o fato de não sentir deslumbramento algum.