segunda-feira, 26 de julho de 2010

Parabéns para nós!

Hoje, sem mais nem menos, completamos um ano de separação. Ano passado essa hora, exatamente a essa hora, eu lembro bem. Eu estava em casa quando li, no seu email, mensagens para a outra. Contestei e você assumiu a traição. Fui chorar no ombro do meu irmão e minha mãe dormiu no meu quarto, para tentar amenizar a dor da noite mais longa, profunda e cortante de toda minha vida.

E de repente, um ano nos separa. Aquela noite ficou pra trás, junto com todo amor que eu sentia por você. Não foi fácil, mas tenho que admitir: até que passou rápido.

Outro dia uma amiga me perguntou o que você tinha me ensinado. A gente estava conversando sobre os legados que as pessoas deixam em nossas vidas e ela quis saber qual tinha sido o seu.

O coiso me ensinou a gostar de MPB e cinema europeu, o outro coiso me ensinou a gostar de esporte e restaurante caro. Teve o coisinho que me ensinou a ler jornal na praia. E você? Que raios me ensinou?

Fiquei sem saber na hora, mas hoje, no nosso aniversário de um ano separados, posso dizer que foi você quem me ensinou uma importante lição: você me ensinou a sofrer.

Eu nunca, nunca, em vinte e sete anos de vida, tinha sofrido. Nunca. Claro, eu odiava ver meus pais quebrando o pau quando era criança e que doeu não ser aprovada no vestibular, depois de ter estudado exageradamente.

Mas eu lembro que sempre pensava: um dia um príncipe vai me levar para longe daqui e dessa realidade.

Antes, na escola, por ser muito tímida e magrela, me sentia um papel de parede bege que ninguém entende pra que serve. Eu pensava: um dia um príncipe vai me levar pra longe dessa falta de vida, dessa falta de beleza, dessa falta de compreensão, dessa falta de cor, dessa falta de sei lá o que porque eu era novinha demais pra saber o que faltava.

Esperar o raio do príncipe sempre disfarçou minha dor, sempre me refugiou dela. Mas quando eu, no dia 26 de julho de 2009, descobri sua traição, fiquei sem saber como fugir da dor.

Você era meu príncipe. Depois de tantos amores estranhos, pequenos, errados e tortos, finalmente eu tinha reconhecido no seu olhar centralizado e no seu sorriso espalhado, o meu príncipe.

E o meu príncipe tinha outra princesa. O que eu ia esperar da vida agora? Quem iria me levar para longe se você não me queria mais por perto? Não teve como. Foi a primeira vez na vida que não consegui me tapear e acabei deixando a dor vencer.

Pela primeira vez a dor falou mais alto que a força da menina frágil e pequena por fora, mas grande e forte por dentro. Pela primeira vez a realidade da sua ausência falou mais alto que a fantasia de anos a sua espera. Sofri pra caralho, como diz por aí quem sofre pra caralho.

Mais do que livros cabeças, músicas bacanas, frases inteligentes, lugares descolados ou hábitos saudáveis, você me ensinou o que realmente importa aprender nessa vida: que a vida pode ser uma grande, imensa e gigantesca merda.

É, ela pode ser. E que não existe porra de príncipe porra nenhuma. Que nem ninguém e nem nada pode levar você pra longe de nada. É isso e pronto. E é assim pra todo mundo. E pronto. Qual o drama?

A dor infinita dos dias infinitos que vieram depois do dia em que você se foi pra sempre veio misturada com toda a dor que eu não senti em todos esses anos. A dor da sua traição trouxe vestibulares, falhas, complexos, magreza, vômitos, enjôos, pedras nos rins, tardes perdidas em odiar o mundo, cabeças viradas, corredores frios, nãos em entrevistas de emprego, papéis de parede beges e rejeição dos grupinhos da escola.

A nossa dor acabou sendo toda a dor que fazia fila em mim para ser sentida. E já que a porta pra realidade estava aberta, por que não sofrer também pela festa de casamento que não aconteceria, pelo apartamento em que eu não moraria? Por que não sofrer pelas histórias que eu deixei de viver e as coisas que eu deixei de fazer nesses anos todos, enquanto você me consumia? Por que não temer ficar sozinha e nunca mais amar alguém como amei você?

A dor da sua partida trouxe toda a dor do mundo. De uma só vez. Mas agora, pra falar a verdade, eu já não sofro mais o nosso fim faz tempo. E pra falar ainda mais a verdade, eu acho mesmo que você foi o príncipe que eu esperei a vida inteira. Você chegou e me levou embora. Levou embora a menina que tinha medo de sentir a vida e esperava uma salvação para tudo.

Quem sobrou é essa desconhecida que se conhece muito bem em sua falsa magreza, lê jornais todos os dias, estando na praia ou não, substituiu o bege pela cor do verão, tem uns pais gente boa, um irmão brilhante,cursou a faculdade que sonhou, tem como profissão o que mais gosta de fazer na vida, é popular, adora os poucos e estranhos amigos, se diverte com o namorado, não espera mais pelo cavalo branco, mas fica ansiosa pelo início da novela e com certeza hoje está pronta para amar de verdade. Amar um homem e não um príncipe.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Mr. Right

Ele me faz rir, sem nunca usar o riso contra mim. Falta habilidade de saber ouvir, é verdade, mas fico lisonjeada quando presta atenção às minhas críticas e se esforça num sacrifício comovente para mudar um hábito.

Compreende a diferença entre estar presente e fazer companhia. Não é prolixo e sempre tenta impressionar. Não entende de vinho, literatura ou cinema europeu; mas é autêntico e admite que não entende de vinho, literatura nem de cinema europeu (e eventualmente confessa que gosta mesmo é de comédia romântica).

Não exige a todo instante meu lado risonho porque sabe, como sabe de tantas outras coisas não ditas em sentenças ou discursos, que os dias negros fazem parte de mim.

Nota as sutis alterações de humor pelo tom da minha voz e, antes de prejulgar as razões, se predispõe a fazer cafuné ou, sensato, cala-se ao meu lado observando as pessoas ou a paisagem em volta. E não exige explicações porque possui uma calma sabedoria que me impele em sua direção: dividir minhas angústias e anseios com ele é tão acolhedor quanto deitar na grama sob o sol de outono.

Ele me dá bronca quando abuso da minha independência, me lambuzo com temaki ou como chocolate demais e depois reclamo do peso. Compreende que preciso da sensação indescritivelmente libertadora de sumir por algumas horas e, mesmo sem concordar com ela, não me interroga como um delegado quando volto de um encontro com minhas amigas.

Canta. Se acha mais afinado do que realmente é, mas adoro quando sussurra (ou coloca no som do carro) canções que, num dia qualquer, mencionei gostar. Sabe dançar. Mas quando a música exige passos mais elaborados, mantém a dignidade e fica sentadinho me observando e lançando olhares gulosos.

Também bebe. Fraco diante do álcool, é daqueles que ficam charmosos de matar com um copo de caipirinha nas mãos. É deliciosamente sacana três doses acima do normal. Enterra os bons modos e fecha abruptamente a porta do quarto, sem tempo para que eu pronuncie alguma babaquice do tipo “você me faz tão feliz”. Adormece aconchegado a mim, mas não suporta ficar agarrado durante toda a noite.

E também curte comer bem. Diverte-se tanto num restaurante quanto numa balada. Deixa eu escolher onde ir, mesmo dando sugestões tendenciosas.

Tem sempre uma palavra carinhosa (e não melada) para dizer, até nos minutos desagendados durante o dia cheio (nem que seja por e-mail), e não usa trabalho nem cansaço como pretexto para suas eventuais faltas; as assume e, até, se desculpa. Não se esquiva de discutir os problemas que não se solucionam com notas de 100. Não considera fraqueza dizer que me ama. Pede ajuda quando sente que o peso colocado sobre seus ombros extrapolou sua força. E chora. Não faz promessas porque sabe que nem sempre é possível cumpri-las.

Vive regido por sua consciência sensata ao mesmo tempo é impulsivo, assassina a etiqueta e comete atos passionais. Então faz besteiras, erra, engana-se. E nem por isso deixa de ser maravilhoso - apenas segue sendo magnífica e extraordinariamente humano.

Ele é imperfeito, numa imperfeição que combina exatamente com a minha.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Só não pode ter a nécessaire maior que a minha.

Que inferno, que droga, que saco, que merda. Vou ter de admitir publicamente. Ta doendo. Chega a ser vergonhoso, humilhante, mais fazer o quê? É a verdade. Nada mais que a irônica verdade: eu gosto mesmo é de playboy.

Eu tentei de todas as maneiras ver graça nessas espécies de papete e óculos apenas funcional (daqueles que dispensam qualquer aro fashion ou marca conhecida). Tentei com afinco achar um desses tipinhos colecionadores de sebos e traças. Como eu sonhei com os que querem salvar o mundo entre uma pinguinha com amigos do curso de sociologia e o CD do Chico tocando no carrinho popular.

Não são esses os homens interessantes? Não era um desses que eu queria em casa, botando um Cartola pra dançar de rostinho colado? Botando um Bob Dylan para começar o dia odiando qualquer música que toca na Jovem Pan? Um que só comprasse brinquedos educativos e ecologicamente corretos para nossos filhos?
Não era eu que vivia reclamando dos playbas irados e implorando para o destino colocar nas minhas mãos um autêntico intelectual que prima pelo cérebro em detrimento ao abdômen?

Sim, fui eu mesma. E eu paguei a minha língua, como dizem por aí. Descobri que eu gosto mesmo é do maleta cheiroso, com camisa e calça jeans apertada que mostra toda sua inteligência ao ler uma boa carta de vinhos. Gosto das cuequinhas Calvin Klein, com algodão egípcio. Eu gosto é da nuca sem aqueles pêlos extras, do ombro largo e sobrancelha limpa entre os olhos.

Levantar livros, ainda que sejam todos os volumes do Dom Quixote, não deixa nenhum homem com aquele bração que te pega de jeito, puxa teus cabelos, te aperta e te faz sentir segura. Me desculpa, Cervantes, mas com um braço firme em volta de mim, qualquer moinho de vento vira um gigante sedento.

Chega! É isso aí. Vou parar de ir contra a natureza e assumir meus instintos primitivos: poetas e ativistas de plantão podem até emocionar meu coração, mas nada causam quando o buraco é mais embaixo.

Eu sei que é bom conversar. Eu sei que, depois de anos de namoro, o que sobra é respeito. Eu sei que depois de casada o que eu vou querer é um bom companheiro com quem dividir o jornal, os DVDs e as idéias.

Mas até chegar aí, eu quero mesmo é um playboy com tudo o que eles têm direito. Quero fechar os olhos e enlouquecer com um cheiro, uma apertada, uma lambida, uma mão firme. E não com uma frase inteligente ou um comentário deliciosamente cínico.
Claro, se eu puder ter as duas coisas, melhor. Mas, por agora, prefiro ter Woody Allen na TV e Justin Timarlake no sofá. Pronto, falei!