segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Fui.

Este texto não tem pretensão literária. Não tem palavra difícil nem contrução complexa. É apenas uma cartinha de despedida simples e meio jogada. Uma ruptura breve e necessária entre nós.

Eu só queria dizer, antes de amarrar as fitas com a bandeira do Brasil na mala, antes do frio gostoso na barriga, antes do avião me projetar pra trás avisando que a hora tão esperada chegou, que eu continuo a mesma, ainda que completamente diferente.

Eu continuo deixando tudo pra última hora, eu continuo ambiciosa demais e mal-humorada além da conta. Eu continuo com medo de tudo e de todos ainda que isso, por alguma razão louca, me faça amar ainda mais tudo e todos.

Mas eu também descobri coisas deliciosas a meu respeito como, por exemplo, que eu ainda tenho apetite. Depois de cinco anos emagrecendo a cada mês, agora eu voltei a engordar! Outra descoberta foi saber que assusto todo mundo com o meu espelho de Palas Atenas. Uma pessoa superficial e de mentira jamais agüentaria ficar perto de mim, quer coisa melhor que isso? Afasto as sombras ainda que muitas vezes me sobre a solidão. E é maravilhoso estar sozinha.

Descobri, depois de muito refletir, ler, fazer pilates, escrever e fazer compras, que o que realmente faz uma mulher feliz e plena é a escova progressiva. Meu cabelo está lindo, liso, brilhante e macio. Sim, eu também posso ser apenas fútil e isso é libertador.

Eu ainda choro do nada porque viver é um drama, mas sabe o que eu descobri? Que essa vida dramática é muito engraçada. Semana passada eu e algumas amigas rimos a noite inteira e celebramos o fato de sermos únicas, de sermos tão parecidas e de sermos umas das outras. Nada como o tradicional jantar de amigo-secreto das 10 amigas para relembrar que a melhor coisa do mundo são os amigos. E por isso queria dizer: Kelutcha, Rose, Suzunts, Lulu, Tchuca, Do, Jeje, Lelinha, Fefa e Deinha, eu amo vocês pra cacete. E que a caneta-sombra-mousse ficou um arraso na Carina. Lulu, você acertou em cheio no presente. Sucesso absoluto.

Queria dizer pra vocês que eu finalmente resolvi dar cabo das coisas do grandessíssimo filho-da-puta que fez desse ano, que era pra ser o melhor da minha vida, um inferno. Se o covarde não veio buscar, sinto muito. Não foi atrás das suas coisas, perdeu. A vida é assim, queridão. Vê se aprende isso de uma vez por todas. Obrigada pelos conselhos, Kiki. Você é demais e eu também amo você pra cacete.

Queria dizer pra vocês todos que, pela primeira vez na vida, depois de cinco meses, ele me ligou e eu não atendi, por pura preguiça de andar pra trás ou aceitar um amor de quem não tem amor pra dar.

Eu apenas queria dizer que eu engordei um pouquinho, mas continuo magra e meu senso de humor voltou. Por enquanto ele anda bem negro, mas já já clareia de novo.
Queria aproveitar para fazer um elogio a mim, sim, chega de me detonar. Queria dizer que, apesar de eu me sentir imensamente sozinha de vez em quando, eu sou milhares, e todas essas milhares se acham a melhor mulher do mundo. Queria bater palmas pra todas as vezes em que eu sacrifiquei o que mais amava em nome de seguir a diante com o meu fígado e todas as vezes em que fiquei pequenininha para que ficar grande fosse ainda maior.

Obrigada, a mim mesma, por ter agüentado firme, sem nunca perder a clareza da situação. Obrigada, a mim mesma, por ter me encontrado. Obrigada ter tido a paciência de esperar a dor passar. Obrigada, a mim mesma, por estar aqui.

Confio que agora, conquistar o mundo e o homem ideal vai ser ridículo. Afinal, se dei um jeito no meu cabelo, posso dar na vida também.

Hoje eu acordei nervosa e irritada com a minha viagem, aí parei e pensei: chega de se boicotar minha filha, tá na hora de você ser muito feliz.

Gente, tá na hora da gente ser muito feliz. Primeiro porque somos de verdade, depois porque somos filhos de D´us e, pra terminar, porque existe escova progressiva!

Enquanto eu não volto, deixo vocês com o filme “Na Natureza Selvagem”. Nesta fase em que namoro a solidão e amo todos os solteiros, é sempre bom tomar uma chacoalhada e ver que ninguém vive sozinho. Deixo vocês com a voz da Marisa Monte e do Seu Jorge, com a frase maravilhosa de Vinícius, “a vida só se dá pra quem se deu”, e com o temaki de salmão com cream cheese nas madrugadas. Tem ainda o esmalte Rosa Pink da Colorama, os telefonemas desesperados do meu pai e o trânsito da Berrini. Ah, e claro, a Julieta que, na minha ausência, vai finalmente conseguir dormir na cama da vovó a noite toda.

Meu peito está cheio de curiosidade e alegria. É possível sim amar a vida, ainda que qualquer amor tenha seus dias de crise. E eu só queria deixar todos vocês, enquanto eu não volto, com um pedaço de mim. Pode pegar sem cerimônia. Alma quanto mais a gente dá, mais a gente tem.

Muito obrigada aos meus 11 seguidores, aos comentaristas e aos anônimos que discutem minha vida neste blog. Vocês me dão a certeza de que eu estou exatamente onde eu deveria estar: fazendo as mulheres se sentirem menos loucas, dando porrada nos homens. Causando polêmica e fazendo todo mundo rir de si mesmo.

Vocês fazem valer todo o sacrifício, muitas vezes solitário, de ser uma pessoa sem medo de sentir de verdade a vida de dentro e a de fora.

Não me xinguem se este texto ficar muito tempo por aqui, todo mundo precisa, pra viver, morrer de vez em quando. Até a volta.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

De volta às baladas.

“Vamos pra balada?” perguntou uma amiga. Eu era uma das poucas solteiras do lugar e estava desacompanhada em um casamento com 456 casais cheirando a mofo e a sexo mecânico. Todos me olhando com aquela carinha de “calma, você vai superar isso e sua hora vai chegar”.

Achei que a idéia da balada merecia uma análise. Afinal, eu estava recém solteira e a maquiagem tinha custado caro demais para ir dormir antes de borrá-la. Resolvi arriscar.

Assim que cheguei na porta, virei os olhos pra cima “que porra eu to fazendo aqui?” Pelo que eu me lembre, há cinco anos, na balada só tinha bombados, garotas iguais, música ruim, gente perdida que circula sem parar e/ou dança em círculos. Definitivamente, esse não é o lugar para uma mulher direita e intelectual como eu.

Já estava desistindo quando minha amiga solta: “nem precisa pegar fila, meus amigos MANDAM aqui”.

Medo. Essa coisa de ter amigo que manda na balada não combina muito comigo, mas eu já estava lá mesmo. Ainda era cedo pra dormir, mas já era muito tarde pra tentar arrumar outra coisa pra fazer. Continuei em frente.

Já na entrada, um daqueles típicos segurança-armário de recintos playba me parou pra fazer aquela encenação “Segura aí, senhorita, que eu to recebendo as instruções”. Sabe a síndrome dos pequenos poderes? Sabe o zelador dono do prédio? Sabe a recepcionista metida que se acha amante do dono só porque ele fala “bom dia, princesa”, às sextas-feiras? Sabe guardinha de bairro que adora ajeitar o cinto pra mostrar a pistolinha?

Balada playba sempre tem um armário medíocre na entrada. Aquele que é o melhoooooor amiga das idiotinhas promoters e seus flayers, mas nunca pega nenhuma porque não tem carro importado.

Enfim, depois do showzinho do armário das Casas Bahia eu pude entrar. A visão de dentro era um pouco mais infernal que a de fora. Não havia sequer 1 centímetro quadrado que não fosse ocupado por alguma acéfala de vestidinho tomara-que-caia ou algum macho de pólo Diesel.

Pensei em comunicar para o armário das lojas Marabraz que, muito obrigado, mas eu não ia ficar naquela balada tão sensacional. Mas, a minha amiga que estava ao meu lado saiu correndo, pois viu seus amigos no bar. Não custava nada, já que os amigos dela MANDAM na balada, ir lá agradecer o convite, ficar mais alguns segundos e depois retornar ao maravilhoso universo da minha casa silenciosa.

Já no bar, pedi uma vodka com energético. Tinha mais gelo do que bebida no copo. E dali a pouco, nem gelo tinha. Acho que estava com sede.

Nas picapes o hit era algo como “tonight, a good night”. Na minha frente, um grupinho de melhores amigas que se odeiam brincavam de chicotear com o cabelo de formol quem atrapalhasse suas danças. Foi então que ouvi um alto e sonoro “Mazal Tov. Le´chaim”, continuação do hit “good, good night”. É, acho q tá na minha hora. Deu, Fui. Até.

Mas, no momento que planejo uma boa desculpa para a despedida, minha amiga pede com aquela carinha de chorona “to afim de um gatinho. Você vai ficar aqui comigo até eu beijar ele, não vai?” Não pude negar. Ela não estava afim de qualquer cara. Ela estava afim de um dos caras que MANDAM na balada. Fiquei.

Bebidas coloridas e fumaças doces depois (não, não é cigarro de nenhum tipo. Tô falando daquela fumaça branca que eles soltam para dar um clima “disco voador da Xuxa aterrissando” para ninguém ver você dançando que nem uma besta).

E lá estava eu bebendo mais uma. E mais outra. E, de repente, aquele “I got a feeling” não era de todo mal. Me lembrava um tempo não muito distante (cinco anos atrás) em que eu era menos crítica e mais feliz. As melhores amigas que se odeiam até que tinham seu charme. A pista ultramegamaster lotada também tinha utilidade: eu estava praticamente no colo de um carinha bonito, tamanha era a falta de espaço.

E dá-lhe vodka com energético, com guaraná, com fumacinha da nave Xuxa. E I got a feliiiiiiiiing, that tonight is gonna be a good night. Puta letra iraaaaaaaaaada. Uhuuuuuu. Adooooooro. Amigaaaaaa olha essa músicaaaaa. Quero ser a melhooooooor amiga das melhores amigas que se odeiam. Ah, que fantástica essa vida. Quero comprar armários nas Casas Bahia e nas Lojas Marabraz. Quero colecionar flyers. Quero virar promoter.

Que ser redatora, que nada. Vida chata da porra. Intelectual o cacete. Pro inferno quem quer me namorar. Quero inflar meus pulmões desse gás branco maravilhoso das pistas. Quero morrer amiga dos playbas de pólo Diesel. Adoro essa galera que MANDA na balada. Que bom que eu estou solteira. Tonight is gona be a good, good night. Puta música irada.

E de todas as dúvidas existenciais que carrego nessa fase de transição, só restavam três: eu não conseguia decidir se tinha 16, 17 ou 18 anos. Acabei escolhendo 17, aquela fase sensacional em que nada é sua culpa, mas já dá pra entrar na balada sem mostrar a identidade pro armário.

No final da noite (começo da manhã) eu já não tinha mais maquiagem no rosto e meu vestido era uma massa amorfa. Era hora de voltar para casa. De taxi, porque meninas de 17 anos (e também meninas de 26, bêbadas) não dirigem.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Quase.

Eu quase consegui me entregar para alguém semana passada. Por um instante eu fechei os olhos e senti meu peito esvaziado de você. Foi realmente quase.

Final de semana, me diverti tanto com uma amiga, tanto que quase fui feliz de novo.
Eu achei que quando passasse o tempo. Eu achei que quando finalmente visse você tão livre, tão forte e tão indiferente. Eu achei que quando eu sentisse o fim, achei que passaria. Não passa nunca, mas quase passa todos os dias.

Chorar deixou de ser uma necessidade e virou apenas uma iminência. Sofrer deixou de ser algo maior do que eu e passou a ser um pontinho ali, no mesmo lugar, incomodando a cada segundo, me lembrando o tempo todo que aquele pontinho é um resto, um quase não pontinho.

Você, que já foi tudo e mais um pouco, é agora um quase. Um quase que não me deixa ser inteira em nada, plena em nada, tranqüila em nada, feliz em nada.

Todos os dias eu quase te ligo. Eu quase consigo ser leve e eu quase consigo te tratar como nada. Mas aí quase desisto de tudo, quase ignoro tudo. Sem nenhuma ansiedade, quase termino o dia tendo a certeza de que é só mais um dia com um restinho de quase e que um restinho de quase, uma hora, quase sempre, vira nada. Mas não vira nada quase nunca.

Eu quase consegui te amar exatamente como você era, quase. E é justamente por eu nunca ter sido inteira pra você que meu fim de amor também não consegue ser inteiro.

Eu quase não te amo mais, eu quase não te odeio, eu quase não morro com a sua presença, eu quase não escrevo mais textos sobre você.

O problema é que todo o resto de mim que sobra, tirando o que quase sou, quase não sei quem é.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Quatro meses depois.

Na guerra ou na vida, caminhar em outra direção é essencial em qualquer boa estratégia.

As mudanças simplesmente aconteceram. Vieram até mim de maneira brusca, dolorida e inesperada. Atropelaram a minha vontade, detiveram minha marcha e machucaram a minha existência.

Depois de passada a raiva de D ´us, do destino, do homem, do macho, da “outra”, fui forçada a enxergar a situação sob outro prisma, com mais frieza e, por isso mesmo, de forma mais sensata e isenta dos erros de julgamento que a intensidade e o envolvimento me levaram a cometer.

A tempestade passou. O céu clareou. Ainda existem coisas quebradas e fora do lugar, é verdade. Mas, o grande barato de ter a vida de cabeça pra baixo foi sentir os efeitos desse redimensionamento inesperado.

Agora, em fase de retomada já consigo enxergar a placa de "rua sem saída" que sempre esteve lá na trilha passada, mas eu teimava em não ver. Ou, o brilho atraente que precede meus novos dias.

Mas não posso contar com milagres, preciso da razão para seguir em frente. É inútil proclamar independência emocional por medo de desiludir-me novamente ou tornar-me escrava das paixões para curar a ferida exposta.

Depois de sofrer feito o cão por encarar tudo na base do oito ou oitenta, fiz um pacto comigo mesma: jamais levarei coisa alguma a ferro e fogo porque nada importa tanto.

Absolutamente nada é imprescindível. Nem ninguém. Esse não é um discurso de auto-suficiência, pelo contrário, é uma reflexão de alguém que aprendeu na porrada, ou melhor, no choro, que só relativizando, tornando a existência e o coração mais leves, é que se pode ser feliz. Primeiro sozinha e, então, ser feliz com alguém.

Arrastei correntes, tolerei demais, juntei R$ 95 mil em dez dias, fiquei dois anos sem carro, amei incondicionalmente, emagreci, pirei. Levei tudo tão a sério e a única coisa que consegui foi uma úlcera e uma tristeza que quase me enlouquece de vez.

Cuidarei de quem amar, quando me apaixonar de novo. Mas jamais farei disso o objetivo da minha vida.

Assim, evito ficar frustrada quando não tiver dele o que dei pra ele. Ou não tiver dele o que ACHAR que ele deveria devolver.

Fiz o que quis, porque quis, então não posso reclamar o troféu. Não existe prêmio para quem doa amor.

Recuei diante da tela que estampa a minha história. Mudei de ângulo, observei as cores, os traços e os detalhes que, naquela relação sufocante, passaram despercebidos.

Notei que há muito, mas muito mais na minha vastidão do que aquele ponto preto que ficava, insistente, diante dos meus olhos.

Aprendi que ser feliz, no final das contas, não é questão de sorte ou azar. É questão de perspectiva.