quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

De volta às baladas.

“Vamos pra balada?” perguntou uma amiga. Eu era uma das poucas solteiras do lugar e estava desacompanhada em um casamento com 456 casais cheirando a mofo e a sexo mecânico. Todos me olhando com aquela carinha de “calma, você vai superar isso e sua hora vai chegar”.

Achei que a idéia da balada merecia uma análise. Afinal, eu estava recém solteira e a maquiagem tinha custado caro demais para ir dormir antes de borrá-la. Resolvi arriscar.

Assim que cheguei na porta, virei os olhos pra cima “que porra eu to fazendo aqui?” Pelo que eu me lembre, há cinco anos, na balada só tinha bombados, garotas iguais, música ruim, gente perdida que circula sem parar e/ou dança em círculos. Definitivamente, esse não é o lugar para uma mulher direita e intelectual como eu.

Já estava desistindo quando minha amiga solta: “nem precisa pegar fila, meus amigos MANDAM aqui”.

Medo. Essa coisa de ter amigo que manda na balada não combina muito comigo, mas eu já estava lá mesmo. Ainda era cedo pra dormir, mas já era muito tarde pra tentar arrumar outra coisa pra fazer. Continuei em frente.

Já na entrada, um daqueles típicos segurança-armário de recintos playba me parou pra fazer aquela encenação “Segura aí, senhorita, que eu to recebendo as instruções”. Sabe a síndrome dos pequenos poderes? Sabe o zelador dono do prédio? Sabe a recepcionista metida que se acha amante do dono só porque ele fala “bom dia, princesa”, às sextas-feiras? Sabe guardinha de bairro que adora ajeitar o cinto pra mostrar a pistolinha?

Balada playba sempre tem um armário medíocre na entrada. Aquele que é o melhoooooor amiga das idiotinhas promoters e seus flayers, mas nunca pega nenhuma porque não tem carro importado.

Enfim, depois do showzinho do armário das Casas Bahia eu pude entrar. A visão de dentro era um pouco mais infernal que a de fora. Não havia sequer 1 centímetro quadrado que não fosse ocupado por alguma acéfala de vestidinho tomara-que-caia ou algum macho de pólo Diesel.

Pensei em comunicar para o armário das lojas Marabraz que, muito obrigado, mas eu não ia ficar naquela balada tão sensacional. Mas, a minha amiga que estava ao meu lado saiu correndo, pois viu seus amigos no bar. Não custava nada, já que os amigos dela MANDAM na balada, ir lá agradecer o convite, ficar mais alguns segundos e depois retornar ao maravilhoso universo da minha casa silenciosa.

Já no bar, pedi uma vodka com energético. Tinha mais gelo do que bebida no copo. E dali a pouco, nem gelo tinha. Acho que estava com sede.

Nas picapes o hit era algo como “tonight, a good night”. Na minha frente, um grupinho de melhores amigas que se odeiam brincavam de chicotear com o cabelo de formol quem atrapalhasse suas danças. Foi então que ouvi um alto e sonoro “Mazal Tov. Le´chaim”, continuação do hit “good, good night”. É, acho q tá na minha hora. Deu, Fui. Até.

Mas, no momento que planejo uma boa desculpa para a despedida, minha amiga pede com aquela carinha de chorona “to afim de um gatinho. Você vai ficar aqui comigo até eu beijar ele, não vai?” Não pude negar. Ela não estava afim de qualquer cara. Ela estava afim de um dos caras que MANDAM na balada. Fiquei.

Bebidas coloridas e fumaças doces depois (não, não é cigarro de nenhum tipo. Tô falando daquela fumaça branca que eles soltam para dar um clima “disco voador da Xuxa aterrissando” para ninguém ver você dançando que nem uma besta).

E lá estava eu bebendo mais uma. E mais outra. E, de repente, aquele “I got a feeling” não era de todo mal. Me lembrava um tempo não muito distante (cinco anos atrás) em que eu era menos crítica e mais feliz. As melhores amigas que se odeiam até que tinham seu charme. A pista ultramegamaster lotada também tinha utilidade: eu estava praticamente no colo de um carinha bonito, tamanha era a falta de espaço.

E dá-lhe vodka com energético, com guaraná, com fumacinha da nave Xuxa. E I got a feliiiiiiiiing, that tonight is gonna be a good night. Puta letra iraaaaaaaaaada. Uhuuuuuu. Adooooooro. Amigaaaaaa olha essa músicaaaaa. Quero ser a melhooooooor amiga das melhores amigas que se odeiam. Ah, que fantástica essa vida. Quero comprar armários nas Casas Bahia e nas Lojas Marabraz. Quero colecionar flyers. Quero virar promoter.

Que ser redatora, que nada. Vida chata da porra. Intelectual o cacete. Pro inferno quem quer me namorar. Quero inflar meus pulmões desse gás branco maravilhoso das pistas. Quero morrer amiga dos playbas de pólo Diesel. Adoro essa galera que MANDA na balada. Que bom que eu estou solteira. Tonight is gona be a good, good night. Puta música irada.

E de todas as dúvidas existenciais que carrego nessa fase de transição, só restavam três: eu não conseguia decidir se tinha 16, 17 ou 18 anos. Acabei escolhendo 17, aquela fase sensacional em que nada é sua culpa, mas já dá pra entrar na balada sem mostrar a identidade pro armário.

No final da noite (começo da manhã) eu já não tinha mais maquiagem no rosto e meu vestido era uma massa amorfa. Era hora de voltar para casa. De taxi, porque meninas de 17 anos (e também meninas de 26, bêbadas) não dirigem.

Um comentário:

  1. Chorei de rir! Muuito mas muuito legal mesmo!
    Deu até vontade de ir pra balada hj!

    ResponderExcluir