terça-feira, 3 de novembro de 2009

Dá pra fechar a janela?

Que dia mais estranho, pensou. Viu que o sol quase queimava seus olhos. Era novembro, mês em que sentia dores fundas. Uma casamento que não aconteceria, uma despedida sofrida, um feriado de solidão.

Desejou ser outra por um dia. Queria ser irresponsável, abusada e folgada. Pensou em ter alguém pra sugar, queria parasitar na felicidade de outro e se embebedar numa alegria que não era sua.

Queria mandar quem não sofria com ela tomar no cu, ir pra putaquepariu. E queria achar graça disso. Queria não reclamar e preencher o vazio que sentia com palavras. Escrever bonito, para provar a si mesma que tinha algum valor diante da vida.

Quando viu linhas prateadas em volta das nuvens, quis sentar ao ar livre e escrever, ler e fumar, mesmo sabendo que não fumava. De alguma forma, hoje precisava transgredir. Trair, seduzir, errar, magoar, se enclausar e mergulhar no buraco de dimensões infinitas que existia dentro dela.

Queria não entender, queria sofrer e fazer sofrer com seu egoísmo. Teve vontade de morrer só por um dia. Distribuiu suas farpas a todos que a cercavam.

Agora chorava. Quis ser fútil, ser muito mais loira, peituda, vulgar e gostosa. Ser invejosa e burra. Quis ser fraca e frágil, por acreditar piamente que D´us só nos manda o que podemos suportar.

Queria saciar-se só com um vestido novo, que o dinheiro compra. Amor, amigas, paz, sucesso, reconhecimento e elogios de nada iam valer.

Música, sexo, cerveja e gargalhada. Nem nisso conseguia pensar quando abria a maldita janela da depressão para deixar um vento gelado entrar, retalhar o corpo, dilacerar as entranhas, varrer os pensamentos, até sentir que sua existência virou poeira e difundiu-se nessa mesma brisa que ela tanto evitou que chegasse.

Um comentário: