terça-feira, 1 de setembro de 2009

Saudades

Estava arrasada, completamente devastada. O que seria da sua vida sem ele? Fazia menos de uma hora que descobrira a traição. Mas parecia que já durava um mês.

Ficou ali, olhando para o teto, derretendo-se em lágrimas. Lembrava e relembrava fatos, frases, cenas, sempre tentando desesperadamente se apegar ao que agora não existia mais. Sentia o estômago retorcer, a garganta fechar e o coração apertar.

O telefone tocou. Suspeitou que fosse ele. Temendo gritar, fechou bem os olhos para conter a dor dentro do corpo. Era uma amiga que, sabendo da notícia ofereceu palavras em consolo.

Conversaram por horas. Em um esforço sobre humano, a amiga até conseguiu arrancar uma risada da enlutada. Por fim, desligou e pensou há quanto tempo não papeava ao telefone com uma pessoa querida. Como era bom aquilo. Por que deixara de lado?

Passados alguns dias, recebeu o convite para sair com alguém que não conhecia. Percebeu a espinha gelar. Resolveu aceitar. Abriu o armário para escolher o que vestir. Viu as camisas, bermudas e tênis que ele mantinha ali. Lembrou de como tinham chegado àquela intimidade. Desde o primeiro encontro até o dia que teve de separar uma repartição do guarda-roupa para as coisas dele. Aproximou-se das peças do ex. O coração palpitou, mas, forçadamente, sentiu o perfume de outra mulher e guardou as camisas numa caixa.

Durante o encontro, conversaram sobre suas viagens e andanças pelo mundo. Foi bom ouvir, na própria voz, todas aquelas peripécias. Quanta coisa já tinha feito! Quantas histórias tinha para contar. No entanto, entristeceu-se ao perceber que nada daquilo fora feito nos últimos cinco anos. Por que ficou tanto tempo no mesmo lugar? Justo ela que era conhecida por ter “rodinhas nos pés” e gostar de perambular!

Depois, foi sua reestréia na tal balada. As pernas ainda seguravam quase cinco horas dançando. A bebida espantava a timidez e a fazia sentir-se plena, viva, sem ter deixado amarelar a lira dos seus 20 e poucos anos.

Naquela mesma madrugada, chegou em casa e ligou a TV, que estava programada para sintonizar no canal de esportes que ele gostava. Trocou para um filme francês que ela adorava e se perguntou por que fazia tanto tempo que não revia aquele clássico do cinema. Sorriu novamente quando percebeu que sentia muito mais saudade dela mesma do que dele. “Quase me anulei deixando tantas coisas que gostava para trás." E isso foi tudo que conseguiu racionalizar e tirar de lição sobre o fim do namoro. Fez um sanduíche de peito de peru com requeijão, hábito que abandonara por insistência dele de não misturar carne com leite. Devorou-o e dormiu antes mesmo de o filme terminar. Sozinha e, por isso, sem escovar os dentes.

2 comentários:

  1. Amiga!
    Ontem falamos sobre eu seu blog e eu não poderia passar por aqui denovo sem deixar um recado, conforme seu pedido.

    O que tenho para te dizer é que nada COMO UM DIA ATRAS DO OUTRO!

    AQUELE SANDUICHE DE PEITO DE PERU E REQUIJÃO DEVIA ESTAR DELICIOSO!!!!!!!!!!

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  2. Cada parte vivida desses anos foi um tijolo a mais no grande muro que é VOCÊ...
    Cada sofrimento, cada felicidade, cada jantar, cada corte de cabelo, cada presente, cada ausência... e isso ninguém pode tirar da sua história...

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