terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Mundo pequeno.

Quando a Renata me conheceu na balada, exclamou que tinha certeza que eu era muito mais alta. Ela ficou sabendo desse blog através de um amigo que temos em comum e passou a acompanhá-lo quase diariamente.

Quando meu pai indicou meus textos para um amigo, ele recebeu a resposta por email: “filha de peixe, peixinha é, mas nesse caso o ditado se enganou. Sua filha é um tubarão”.

Quando o Rubens, que trabalhava comigo numa outra agência discutia meus atributos físicos com os outros caras do trabalho, ficou espantando quando alguém soltou “ela tem menos de 1.60”. E retrucou: “sério? Mas chama atenção como se tivesse 1.80”.

Na época que resolvi montar esse blog, minha tia Elaine pareceu me elogiar: "você é pequena só no tamanho".

Tem sempre alguém achando um absurdo eu escrever sem usar os “lhes" e “los” e outras firulas. Meu português simples e direto e sem os mares assoviados que planam na planagem dos assovios que se perdem no trilho do trem assolado.

Tem sempre alguém achando um absurdo eu não saber o que disse aquele filósofo ou poeta ou colunista de revista gringa. Tem sempre alguém me comparando com as histéricas “dadeiras”, com as aquelas "minas muito lokis que vivem pra caralho, meu”, as doidinhas que largaram tudo pra “super viver a vida, cara”, as blogueiras que contam do dia com fotinhos para ilustrar, as traças que vivem de livros e drogas pra descobrir o que pensar da vida ou sei lá mais o quê de desgraça se pode encontrar por esses bares de gente que faz sarau ou simplesmente faz mais melhores amigos.

E achando um absurdo erros de português. E imperdoável eu falar só de mim. E que eu deveria falar de outras coisas. E que eu deveria esquecer o passado e falar só de futuro. E que eu deveria, deveria, deveria.

Tem sempre alguém reclamando de ter virado personagem. E reclamando de nunca ter virado nada. Tem sempre alguém reclamando que é muito triste, que é muito pesado, que é muito bobinho, que tem muito palavrão, que chega a ser escatológico, que é muito adolescente, que é muito puro, que tem muita putaria, que é velho demais pra minha idade, que sempre fala a mesma coisa, que não diz coisa com coisa, que incomoda, que não causa nada, que me expõe demais, que me protege, que diz tudo sobre mim, que não diz nada. Seus textos isso. Seus textos aquilo. Os textos. Sempre eles.

Tem sempre alguém chegando e indo embora por causa deles. Atraído, espantado, enojado, louco, excitado. Todos os dias ouço comentários. Daqui e de todos os cantos. De surfistas prateados a neurocirurgiões amarelados. “A comunidade judaica inteira lê o seu blog” “As meninas amam, se identificam, mas os caras acham babaca”. De garotinhas ginasiais que não entendem tudo a suas avós que entendem além, mas isso passa. De amigos e gente que torce pra ser um texto triste. E gente que torce para eu engatar logo em um relacionamento e parar de me lamentar e viver essa fase “rock n´roll”. De garotos para uma manhã a amores infinitos.

Ah, se você lesse mais. Ah, se você soubesse menos. Ah, se você. Se você. Se você. Me achando uma arrogante egocêntrica máster, uma revoltadinha com dor de corna ou simplesmente alguém pedindo socorro antes das bolinhas de gude correrem para as valetas do mundo.

Querendo me ver pequena pra calar a curiosidade crescente. Querendo me afogar pro mar ficar menos gelado. Querendo me dizer que sou isso ou aquilo, tenho isso ou aquilo.

Classificar tantas formas de sentir além de deixar a vida mais controlável ainda me dá lugar no mundo. E dinheiro. E tesão e prazer. E também me dá uns freelas e proposta de emprego como redatora ou jornalista.

Querendo me matar, me comer, me bater, me amar, me desprezar, me ridicularizar, me dizer que assim eu estrago tudo, me ligar de longe, me maltratar bem de perto.

Mas até hoje não teve uma só pessoa que não me imaginasse enorme por causa deles. Enormes. Os textos. Sempre eles.

Um comentário:

  1. Lê, se mudar um qualquer coisa, seja sua altura, seus textos, seus sonhos, suas atitudes, deixaria de ser a Lêlê. Só que eu amo ESSA Lêlê !!! Essa "baixinha gigante", com sem lhes e los, comendo com muito ou com pouco sal, essa "brava engraçada". É essa Lêlê que eu amo, e que se mudar vai ser porque vc quis e ai eu vou continuar te amando, e muiiiiito!. Bjão. Kikas

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