Estar feliz me deixa inquieta.
Essa é uma verdade que luto para mudar, mas ainda é uma verdade. Depois de meses me debatendo contra a constatação do fim de um relacionamento falido, após tanto tempo sendo assolada por uma mente que não parava de se perturbar e cobrar, hoje noto que consegui colocar o trem descarrilado no seu rumo. Andando, em frente, docemente balançando no seu próprio ritmo. Esse balançar me embala. E, estranhamente, me dá medo.
O medo não vem pela possibilidade de perder o caminho ou cair, de novo, nos tons de cinza. Se isso acontecer, sei que sou capaz de fincar os pés no chão e seguir adiante quantas vezes forem necessárias. Mas, estar feliz me deixa intranqüila por que me acostumei a ter problemas, a ter minha cabeça preenchida por neuroses, preocupações, cobranças, lágrimas prestes a serem derramadas.
Isso me entretinha. Sadicamente, me ocupei tanto com minhas próprias tristezas que esqueci de aprender como se faz pra ser feliz. Esqueci como é dormir com alguém que se adora, acordar sem pressa e ficar maciamente ao lado daquela pessoa, cabeça encostada o peito. Desejar olhar seu rosto, beijá-lo, saber suas opiniões sobre cada insignificante e colossal assunto. Descobrir, com uma curiosidade borbulhante, os pequenos detalhes de sua história, os acontecimentos que o fizeram tremer. Como é não precisar impressionar nem se defender todo o tempo. Esqueci como é bom submergir, vez por outra, em um silêncio íntimo que não necessita ser preenchido por palavras vagas.
Passei tanto tempo perdida em mim, que desprezei como me é vital ser carinhosa, cuidar, ser cuidada e bem tratada. Esqueci como é bom ser surpreendida. Como é magnífico relacionar-se. Apaixonar-se.
Esqueci como é bom simplesmente ser.
E sua presença, no último dia dos namorados, me fez lembrar.
Talvez por isso o medo, esse tolo inútil. Sentir me deixa vulnerável: mas me proteger nunca me trouxe nenhum ganho.
Eu não quero me proteger de você. Quero apenas ser tranquila estando feliz.
quarta-feira, 16 de junho de 2010
quarta-feira, 9 de junho de 2010
Passado, presente e futuro.
Sandra acordava todos os dias desejando que Ronaldo deixasse de vez seus pensamentos. Mas teimava em acreditar que estavam conectados por alguma frequência e que existia uma comunicação silenciosa entre eles. Preferia pensar assim a aceitar a ideia de tudo ter sido nada, de toda a intensidade não ter passado de um entusiasmo solitário.
Já não sabia em qual dos dois pensava mais, se em Ronaldo ou se em Priscila. Tinha pensamentos absurdos com os dois, a ponto de querer estar entre eles, sendo ouvida e distribuindo tapas. Todos os seus pensamentos estavam completamente alucinados, sem parâmetros, alternados, inconstantes. Tinha pena de Priscila e sabia que ela viveria tudo ou talvez pior do que ela viveu. E riu ao mesmo tempo. Decidiu dedicar novamente um post para ela:
“Ele não é fiel a você, sob a desculpa de não terem a mesma religião. Ele alega que você não é para casar. É apenas um passatempo até a poeira baixar e ele conhecer outra menina judia. Os amigos dele me contam, me apóiam, me abraçam. Outro dia, afirmaram que ele veio até minha casa, durante a madrugada, e quis subir até meu quarto. Sabia disso? Não julgue como traição. Ainda faço parte dele e você sabe disso. Estou mais presente do que ele próprio na sua vida.
É tão óbvio que ele esta moldando você da mesma forma como fez comigo e isso me permite entender o que ele tanto gostou em você. Você topou o teatro. Você topou carregá-lo nas costas, arrumando emprego para ele, ligando pro chefe dele para pedir aumento, não foi? Assim como eu fiz há anos, pagando a dívida de R$ 95 mil que ele tinha com a faculdade de medicina. Ou quando enfrentei os maiores rabinos de São Paulo, por questionarem a fé dele.
É assim que funciona: ele se faz de vítima e você diz o que ele quer ouvir. Ele se diz fraco e você retruca: você é forte. Ele se julga mau e você desfaz dizendo o quanto ele é bom. É uma maneira ilusória de tirá-lo do poço em que ele mesmo se jogou. Só que um dia a temporada de shows acaba. Você vai tirar a máscara e vai se tocar que nada do que você falou fez ele mudar ou melhorar. A peça é mesma e quem escreve é ele. Eu estou me livrando de vocês.
Ainda vejo tudo de camarote e torço para que realmente alguma coisa nisso tudo desemboque em outro destino. Quanto a você, aproveite. Se quiser saber o final desta história de religião, traição e dívidas, sabe onde me encontrar.”
Ao terminar o texto, Sandra nem mesmo revisou. Clicou em publicar postagem antes que se arrependesse. Quando o texto apareceu na tela do computador, ela leu linha por linha, tensa, receosa. Ao final, como que uma redenção merecida e tão inesperada, ela sentiu-se arrebatada por uma sensação de liberdade. Noites de choro, fobias, planos maquiavélicos, tudo enfim foi substituído por um sentimento sorrateiro, mas delicioso.
Conseguiu ler sem sofrer, sem sentir o refluxo que trazia a acidez das lembranças de volta ao esôfago. Porque aquela não era mais sua história. Era a história de duas pessoas, felizes ou não, ingênuas ou não, que se amam ou não, mas certamente fadadas à repetição e à mediocridade. Como é que algo assim levou quase um ano para parecer tão nítido? Ver a situação do alto, como leitora e espectadora, deixou claro que não era mais preciso se vingar.
Que a maior vingança não viria dela. Viria deles mesmos. Da convivência, da rotina, do peso do dia a dia, da família dele, das convicções religiosas dele, que fatalmente acabariam por consumir aqueles dois. Tantos planos de sangue, de escândalos e a vingança maior estava ali o tempo todo: condenar um ao outro. Nada que ela pensasse poderia ter sido mais cruel do que isso.
Já não sabia em qual dos dois pensava mais, se em Ronaldo ou se em Priscila. Tinha pensamentos absurdos com os dois, a ponto de querer estar entre eles, sendo ouvida e distribuindo tapas. Todos os seus pensamentos estavam completamente alucinados, sem parâmetros, alternados, inconstantes. Tinha pena de Priscila e sabia que ela viveria tudo ou talvez pior do que ela viveu. E riu ao mesmo tempo. Decidiu dedicar novamente um post para ela:
“Ele não é fiel a você, sob a desculpa de não terem a mesma religião. Ele alega que você não é para casar. É apenas um passatempo até a poeira baixar e ele conhecer outra menina judia. Os amigos dele me contam, me apóiam, me abraçam. Outro dia, afirmaram que ele veio até minha casa, durante a madrugada, e quis subir até meu quarto. Sabia disso? Não julgue como traição. Ainda faço parte dele e você sabe disso. Estou mais presente do que ele próprio na sua vida.
É tão óbvio que ele esta moldando você da mesma forma como fez comigo e isso me permite entender o que ele tanto gostou em você. Você topou o teatro. Você topou carregá-lo nas costas, arrumando emprego para ele, ligando pro chefe dele para pedir aumento, não foi? Assim como eu fiz há anos, pagando a dívida de R$ 95 mil que ele tinha com a faculdade de medicina. Ou quando enfrentei os maiores rabinos de São Paulo, por questionarem a fé dele.
É assim que funciona: ele se faz de vítima e você diz o que ele quer ouvir. Ele se diz fraco e você retruca: você é forte. Ele se julga mau e você desfaz dizendo o quanto ele é bom. É uma maneira ilusória de tirá-lo do poço em que ele mesmo se jogou. Só que um dia a temporada de shows acaba. Você vai tirar a máscara e vai se tocar que nada do que você falou fez ele mudar ou melhorar. A peça é mesma e quem escreve é ele. Eu estou me livrando de vocês.
Ainda vejo tudo de camarote e torço para que realmente alguma coisa nisso tudo desemboque em outro destino. Quanto a você, aproveite. Se quiser saber o final desta história de religião, traição e dívidas, sabe onde me encontrar.”
Ao terminar o texto, Sandra nem mesmo revisou. Clicou em publicar postagem antes que se arrependesse. Quando o texto apareceu na tela do computador, ela leu linha por linha, tensa, receosa. Ao final, como que uma redenção merecida e tão inesperada, ela sentiu-se arrebatada por uma sensação de liberdade. Noites de choro, fobias, planos maquiavélicos, tudo enfim foi substituído por um sentimento sorrateiro, mas delicioso.
Conseguiu ler sem sofrer, sem sentir o refluxo que trazia a acidez das lembranças de volta ao esôfago. Porque aquela não era mais sua história. Era a história de duas pessoas, felizes ou não, ingênuas ou não, que se amam ou não, mas certamente fadadas à repetição e à mediocridade. Como é que algo assim levou quase um ano para parecer tão nítido? Ver a situação do alto, como leitora e espectadora, deixou claro que não era mais preciso se vingar.
Que a maior vingança não viria dela. Viria deles mesmos. Da convivência, da rotina, do peso do dia a dia, da família dele, das convicções religiosas dele, que fatalmente acabariam por consumir aqueles dois. Tantos planos de sangue, de escândalos e a vingança maior estava ali o tempo todo: condenar um ao outro. Nada que ela pensasse poderia ter sido mais cruel do que isso.
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