Quando a Renata me conheceu na balada, exclamou que tinha certeza que eu era muito mais alta. Ela ficou sabendo desse blog através de um amigo que temos em comum e passou a acompanhá-lo quase diariamente.
Quando meu pai indicou meus textos para um amigo, ele recebeu a resposta por email: “filha de peixe, peixinha é, mas nesse caso o ditado se enganou. Sua filha é um tubarão”.
Quando o Rubens, que trabalhava comigo numa outra agência discutia meus atributos físicos com os outros caras do trabalho, ficou espantando quando alguém soltou “ela tem menos de 1.60”. E retrucou: “sério? Mas chama atenção como se tivesse 1.80”.
Na época que resolvi montar esse blog, minha tia Elaine pareceu me elogiar: "você é pequena só no tamanho".
Tem sempre alguém achando um absurdo eu escrever sem usar os “lhes" e “los” e outras firulas. Meu português simples e direto e sem os mares assoviados que planam na planagem dos assovios que se perdem no trilho do trem assolado.
Tem sempre alguém achando um absurdo eu não saber o que disse aquele filósofo ou poeta ou colunista de revista gringa. Tem sempre alguém me comparando com as histéricas “dadeiras”, com as aquelas "minas muito lokis que vivem pra caralho, meu”, as doidinhas que largaram tudo pra “super viver a vida, cara”, as blogueiras que contam do dia com fotinhos para ilustrar, as traças que vivem de livros e drogas pra descobrir o que pensar da vida ou sei lá mais o quê de desgraça se pode encontrar por esses bares de gente que faz sarau ou simplesmente faz mais melhores amigos.
E achando um absurdo erros de português. E imperdoável eu falar só de mim. E que eu deveria falar de outras coisas. E que eu deveria esquecer o passado e falar só de futuro. E que eu deveria, deveria, deveria.
Tem sempre alguém reclamando de ter virado personagem. E reclamando de nunca ter virado nada. Tem sempre alguém reclamando que é muito triste, que é muito pesado, que é muito bobinho, que tem muito palavrão, que chega a ser escatológico, que é muito adolescente, que é muito puro, que tem muita putaria, que é velho demais pra minha idade, que sempre fala a mesma coisa, que não diz coisa com coisa, que incomoda, que não causa nada, que me expõe demais, que me protege, que diz tudo sobre mim, que não diz nada. Seus textos isso. Seus textos aquilo. Os textos. Sempre eles.
Tem sempre alguém chegando e indo embora por causa deles. Atraído, espantado, enojado, louco, excitado. Todos os dias ouço comentários. Daqui e de todos os cantos. De surfistas prateados a neurocirurgiões amarelados. “A comunidade judaica inteira lê o seu blog” “As meninas amam, se identificam, mas os caras acham babaca”. De garotinhas ginasiais que não entendem tudo a suas avós que entendem além, mas isso passa. De amigos e gente que torce pra ser um texto triste. E gente que torce para eu engatar logo em um relacionamento e parar de me lamentar e viver essa fase “rock n´roll”. De garotos para uma manhã a amores infinitos.
Ah, se você lesse mais. Ah, se você soubesse menos. Ah, se você. Se você. Se você. Me achando uma arrogante egocêntrica máster, uma revoltadinha com dor de corna ou simplesmente alguém pedindo socorro antes das bolinhas de gude correrem para as valetas do mundo.
Querendo me ver pequena pra calar a curiosidade crescente. Querendo me afogar pro mar ficar menos gelado. Querendo me dizer que sou isso ou aquilo, tenho isso ou aquilo.
Classificar tantas formas de sentir além de deixar a vida mais controlável ainda me dá lugar no mundo. E dinheiro. E tesão e prazer. E também me dá uns freelas e proposta de emprego como redatora ou jornalista.
Querendo me matar, me comer, me bater, me amar, me desprezar, me ridicularizar, me dizer que assim eu estrago tudo, me ligar de longe, me maltratar bem de perto.
Mas até hoje não teve uma só pessoa que não me imaginasse enorme por causa deles. Enormes. Os textos. Sempre eles.
terça-feira, 26 de janeiro de 2010
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
Viagens.
Minha mãe sempre disse que eu tinha dois lados do coração: embarque e desembarque. Era uma maneira divertida de descrever meu gosto por viagens.
Acho que isso vem desde que eu estava dentro da barriga dela, quando, aos nove meses de gravidez, ela falsificou um atestado médico dizendo estar apenas na metade da gestação para poder embarcar em um avião e voar para outros mares.
Depois, ainda pequena, ganhei inúmeros carimbos no passaporte, mostrando os caminhos inusitados por onde estive.
Sempre, os dias que precediam uma viagem eram alegres, em casa. Meus pais alugavam filmes, compravam livros sobre o lugar que visitaríamos. Era uma viagem interna que acontecia dentro de cada um de nós, antes da viagem física.
E foi assim que conheci um mundo de 7 bilhões de realidades, cores indefinidas, verdades relativas e momentos de pura excitação.
Minha realidade cruzava fronteiras entre a neve argentina, o delicioso mundo do Walt Disney, a fome na Índia, o exército chinês, as cores da Tailândia, o comunismo tropical de Cuba, o calor do oriente médio.
E fui construindo meu mundo assim. Pegando um traço de cada canto que conheci. Um ensinamento de cada pessoa que passou tão rapidamente na minha vida durante essas andanças.
Foi também numa viagem, aos 6 anos de idade, que tudo o que eu quis comprar na imensa loja de brinquedos foi um bastão transparente com água e purpurina dentro.
Eu não queria a casinha com formato pronto ou os jogos de tabuleiro que determinavam o próximo passo a ser seguido.
O meu bastão era apenas um traço que dava início a desenhos fascinantes dentro da minha cabeça. Ele era o tronco de uma árvore de folhas azuis. Uma varinha de condão, um microfone. A parede de um prédio, um poste, onde meu elefante de estimação parava para fazer xixi. Era o teto do meu mundo sem-limites.
Tem pais que ensinam a filha a ser uma ótima dona de casa, excelente esposa e profissional. Eu não sei cozinhar, falo palavrão, sonho demais e economizo de menos. Eu fui criada pra explorar o mundo dentro e fora de mim. Fui ensinada a viajar e usar isso como combustível para viver e sentir o mundo e seus cheiros, o mundo e seus sabores, o mundo e suas paisagens, o mundo e seus contrastes, o mundo e sua natureza harmônica e contraversiva.
O resultado disso é que até hoje vivo um dia de cada vez, não faço planos e ajo inconseqüentemente como se amanhã mesmo fosse entrar em um avião e recomeçar de novo, longe de tudo e todos. Não sou muito de dar satisfação, tenho dificuldade de me apegar às pessoas e me desapego de lugares, manias e objetos com facilidade. Tudo tem um certo "quê" de efêmero.
Em compensação, tenho uma coragem absurda e uma curiosidade profunda a respeito da minha vida de dentro e do mundo lá fora. E me pergunto: quantos pais ensinam isso a seus filhos? Tive sorte. Hoje, com quase 27 anos de idade, já rodei os cinco continentes e acabo de chegar de mais uma cruzada. Tinha esquecido como é revigorante viajar.
E devo isso aos meus pais. Não por eles terem me pagado a última passagem, mas por eles terem me ensinado a viajar, em todos os sentidos. Por terem me ensinado a “não dormir em dólares”, a levar pouca roupa na mala, conversar com o maior número de pessoas possíveis, a entrar na realidade do lugar visitado, a falar quarto línguas, andar em um aeroporto, não ter medo de nada e que, muitas vezes, durante a viajem, a única companhia que você terá é a sua. E de sua imaginação. Onde você for, minha filha, o seu mundo vai com você. Então, cuide para que ele seja rico e acolhedor. Deixe-se contagiar pelo mundo lá fora. E contagie o mundo lá fora com o seu.
Meus pais me ensinaram a viver dentro e fora de mim, a ser amiga e ouvinte dos neurônios, fígado, coração e entranhas. As minhas e as dos outros.
E entre as duas coragens: a de não temer voar pelo mundo e a de quem aguenta o universo dentro de si, acabei ficando com as duas e aprendi que elas se complementam. Uma não vive sem a outra.
Não é fácil ter essa delicadeza de sentir. Já vi tanta gente atravessar oceanos e fronteiras sem absorver nada. De que adianta voltar o mesmo? De que adianta voar horas para encontrar a mesma realidade?
Eu gosto mesmo de conhecer outras vidas. De conhecer outras culturas e perceber a vastidão do mundo, para que meus problemas e minha existência se tornem tão minúsculos a ponto de sumirem entre as areias do deserto, as ruas povoadas da Ásia ou diante dos imponentes monumentos das civilizações antigas.
É preciso ter as ferramentas certas pra olhar pras coisas o tempo todo como se elas fossem encantadas e não simplesmente coisas.
Durante muito tempo eu fiquei acomodada na minha realidade, sem sair do país, sem sair da minha alma. Mas, voltei a brincar com o bastão transparente que da formas à minha imaginação e redescobri o mundo das viagens.
Voltei a atravessar as águas profundas, geladas e escuras, do mundo dentro de mim. Do rio Amarelo e do Mar Vermelho também. Dentro da barraca dos beduínos, do camping na praia e da minha barraca que não é barraca, é lençol preso no teto com fita crepe.
Minhas histórias me deram a capacidade de sonhar e, minha personalidade, uma inquietude que não passa nunca. O resto do mundo agora é comigo.
Acho que isso vem desde que eu estava dentro da barriga dela, quando, aos nove meses de gravidez, ela falsificou um atestado médico dizendo estar apenas na metade da gestação para poder embarcar em um avião e voar para outros mares.
Depois, ainda pequena, ganhei inúmeros carimbos no passaporte, mostrando os caminhos inusitados por onde estive.
Sempre, os dias que precediam uma viagem eram alegres, em casa. Meus pais alugavam filmes, compravam livros sobre o lugar que visitaríamos. Era uma viagem interna que acontecia dentro de cada um de nós, antes da viagem física.
E foi assim que conheci um mundo de 7 bilhões de realidades, cores indefinidas, verdades relativas e momentos de pura excitação.
Minha realidade cruzava fronteiras entre a neve argentina, o delicioso mundo do Walt Disney, a fome na Índia, o exército chinês, as cores da Tailândia, o comunismo tropical de Cuba, o calor do oriente médio.
E fui construindo meu mundo assim. Pegando um traço de cada canto que conheci. Um ensinamento de cada pessoa que passou tão rapidamente na minha vida durante essas andanças.
Foi também numa viagem, aos 6 anos de idade, que tudo o que eu quis comprar na imensa loja de brinquedos foi um bastão transparente com água e purpurina dentro.
Eu não queria a casinha com formato pronto ou os jogos de tabuleiro que determinavam o próximo passo a ser seguido.
O meu bastão era apenas um traço que dava início a desenhos fascinantes dentro da minha cabeça. Ele era o tronco de uma árvore de folhas azuis. Uma varinha de condão, um microfone. A parede de um prédio, um poste, onde meu elefante de estimação parava para fazer xixi. Era o teto do meu mundo sem-limites.
Tem pais que ensinam a filha a ser uma ótima dona de casa, excelente esposa e profissional. Eu não sei cozinhar, falo palavrão, sonho demais e economizo de menos. Eu fui criada pra explorar o mundo dentro e fora de mim. Fui ensinada a viajar e usar isso como combustível para viver e sentir o mundo e seus cheiros, o mundo e seus sabores, o mundo e suas paisagens, o mundo e seus contrastes, o mundo e sua natureza harmônica e contraversiva.
O resultado disso é que até hoje vivo um dia de cada vez, não faço planos e ajo inconseqüentemente como se amanhã mesmo fosse entrar em um avião e recomeçar de novo, longe de tudo e todos. Não sou muito de dar satisfação, tenho dificuldade de me apegar às pessoas e me desapego de lugares, manias e objetos com facilidade. Tudo tem um certo "quê" de efêmero.
Em compensação, tenho uma coragem absurda e uma curiosidade profunda a respeito da minha vida de dentro e do mundo lá fora. E me pergunto: quantos pais ensinam isso a seus filhos? Tive sorte. Hoje, com quase 27 anos de idade, já rodei os cinco continentes e acabo de chegar de mais uma cruzada. Tinha esquecido como é revigorante viajar.
E devo isso aos meus pais. Não por eles terem me pagado a última passagem, mas por eles terem me ensinado a viajar, em todos os sentidos. Por terem me ensinado a “não dormir em dólares”, a levar pouca roupa na mala, conversar com o maior número de pessoas possíveis, a entrar na realidade do lugar visitado, a falar quarto línguas, andar em um aeroporto, não ter medo de nada e que, muitas vezes, durante a viajem, a única companhia que você terá é a sua. E de sua imaginação. Onde você for, minha filha, o seu mundo vai com você. Então, cuide para que ele seja rico e acolhedor. Deixe-se contagiar pelo mundo lá fora. E contagie o mundo lá fora com o seu.
Meus pais me ensinaram a viver dentro e fora de mim, a ser amiga e ouvinte dos neurônios, fígado, coração e entranhas. As minhas e as dos outros.
E entre as duas coragens: a de não temer voar pelo mundo e a de quem aguenta o universo dentro de si, acabei ficando com as duas e aprendi que elas se complementam. Uma não vive sem a outra.
Não é fácil ter essa delicadeza de sentir. Já vi tanta gente atravessar oceanos e fronteiras sem absorver nada. De que adianta voltar o mesmo? De que adianta voar horas para encontrar a mesma realidade?
Eu gosto mesmo de conhecer outras vidas. De conhecer outras culturas e perceber a vastidão do mundo, para que meus problemas e minha existência se tornem tão minúsculos a ponto de sumirem entre as areias do deserto, as ruas povoadas da Ásia ou diante dos imponentes monumentos das civilizações antigas.
É preciso ter as ferramentas certas pra olhar pras coisas o tempo todo como se elas fossem encantadas e não simplesmente coisas.
Durante muito tempo eu fiquei acomodada na minha realidade, sem sair do país, sem sair da minha alma. Mas, voltei a brincar com o bastão transparente que da formas à minha imaginação e redescobri o mundo das viagens.
Voltei a atravessar as águas profundas, geladas e escuras, do mundo dentro de mim. Do rio Amarelo e do Mar Vermelho também. Dentro da barraca dos beduínos, do camping na praia e da minha barraca que não é barraca, é lençol preso no teto com fita crepe.
Minhas histórias me deram a capacidade de sonhar e, minha personalidade, uma inquietude que não passa nunca. O resto do mundo agora é comigo.
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